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Pandemia: a Casa Branca e o FMI, os primeiros infectados

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Por IELA em 24 de março de 2020

Pandemia: a Casa Branca e o FMI, os primeiros infectados

 

Guerras, crises económicas, desastres naturais e pandemias são acontecimentos catastróficos que mostram o pior e o melhor das pessoas – tanto dos dirigentes como das pessoas comuns – e também dos actores e instituições sociais. É nestas circunstâncias tão adversas que as belas palavras se desvanecem no ar e dão lugar às acções e comportamentos concretos.
Há poucas e apenas contendo as lágrimas o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, denunciou perante as câmaras o grande engano da “solidariedade europeia”. Não existe tal coisa, disse Vucic, é um conto infantil, um papel molhado. Logo a seguir agradeceu a colaboração da República Popular da China. E tinha razão na sua queixa. Aqui na América Latina percebemos há muito que a União Europeia é uma trama mesquinha concebida para beneficiar antes de mais nada a Alemanha através do seu controle do Banco Central Europeu (BCE) e, com o euro, submeter os países da eurozona aos caprichos ou os interesses de Berlim.
A hesitante reacção inicial do BCE diante de um pedido excepcional de ajuda da Itália para enfrentar a pandemia que está a devastar a península mostrou o mesmo que havia denunciado o líder sérvio. Um escandaloso “salve-se quem puder” que lança por terra as retóricas edulcoradas sobre a “Europa dos cidadãos”, a “Europa una e múltipla” e outras divagações do estilo. Contos infantis, como disse Vucic.
O mesmo e ainda mais vale para o bando de criminosos que se instalou na Casa Branca pela mão de Donald Trump que, perante um Irão fortemente afectado pela pandemia, só se lembrou de escalar as sanções económicas contra Teerão. Tão pouco deu mostras de reconsiderar sua política genocida de bloqueio a Cuba e à Venezuela. Enquanto Cuba, a solidariedade internacional feita nação, auxilia os viajantes britânicos do cruzeiro Braemar a navegar no Caribe, Washington envia 30 mil soldados à Europa e seus cidadãos, alentados pelo “capo”, tratam de enfrentar a epidemia comprando armas de fogo! Nada mais a argumentar.
Fiel aos seus patronos, o Fundo Monetário Internacional demonstrou pela enésima vez que é um dos focos da podridão moral do planeta que, uma vez passada esta pandemia, terá seguramente seus dias contados. Numa decisão que o afunda nas cloacas da história recusou uma solicitação de 5 mil milhões de dólares apresentada pelo governo de Nicolás Maduro apelando ao Instrumento de Financiamento Rápido (IFR) criado especialmente para socorrer países afectados pelo COVID-19.
A razão alegada para a negação do pedido arrasa qualquer resquício de legalidade porque diz, textualmente, que “o compromisso do FMI com os países membros baseia-se no reconhecimento oficial do governo por parte da comunidade internacional, como se reflecte na condição de membro do FMI. Não há clareza sobre o reconhecimento neste momento”.
Dois comentários sobre este ataque miserável: primeiro, ainda hoje no sítio web do FMI figura a República Bolivariana da Venezuela como país membro. Portanto a clareza “sobre o reconhecimento” é total, ofuscante. Claro que não chega para ocultar o facto de que a ajuda é negada a Caracas por razões políticas rasteiras. Segundo, desde quando o reconhecimento de um governo depende da opinião amorfa da comunidade internacional e não de órgãos que a institucionalizam, como o sistema das Nações Unidas?
A Venezuela é membro da ONU, é um dos 51 países que fundaram a organização em 1945 e integra várias das suas comissões especializadas. A famosa “comunidade internacional” mencionada para hostilizar a Venezuela por personagenzinhas como Trump, Piñera, Duque, Lenín Morono e outros da sua laia é uma grosseira ficção, como Juan Guaidó, que não chegar a somar 50 países dos 193 que integram as Nações Unidas.
Por conseguinte, as razões profundas desta recusa nada têm a ver com o que diz o porta-voz do FMI e são as mesmas que explicam o absurdo empréstimo de 56 mil milhões de dólares concedidos ao corrupto governo de Maurício Macri e que foi utilizado maioritariamente para facilitar a fuga de capitais rumo às guaridas fiscais que os EUA e seus sócios europeus têm disseminadas por todo o mundo.
Espero com fervor que a pandemia (que também é económica) e o desastre do empréstimo a Macri convertam-se nos dois lúgubres coveiros de uma instituição como o FMI que, desde a sua criação em 1944, afundou centenas de milhões de pessoas na fome, na pobreza, na doença e na morte com suas recomendações e condicionalidades. Razões profundas, dizíamos, que em última instância remetem a algo muito simples: o FMI não é outra coisa senão um dócil instrumento da Casa Branca e faz o que o inquilino de turno lhe ordena. Quer asfixiar a Venezuela e o Fundo faz os seus deveres.
Não faltará quem me acuse de que esta interpretação é produto de um anti-imperialismo alucinado. Por isso adoptei o costume de recorrer cada dia mais ao que dizem meus adversários a fim de defender os meus pontos de vista e desarmar a direita semi-analfabeta e reaccionária que medra por estas latitudes. Leiamos que escreveu há pouco mais de vinte anos Zbigniew Brzezinski num texto clássico e um dos meus livros de cabeceira: “O grande tabuleiro mundial. A supremacia estado-unidense e seus imperativos geoestratégicos” em relação ao FMI e ao Banco Mundial.
Ao falar das alianças e instituições internacionais que surgiram após a Segunda Guerra Mundial disse que “Além disso, também se deve incluir como parte do sistema estado-unidense a rede global de organizações especializadas, particularmente as instituições financeiras internacionais. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial consideram-se representantes dos interesses “globais” e de circunscrição global. Na realidade, contudo, são instituições fortemente dominadas pelos EUA e suas origens remontam a iniciativas estado-unidenses, particularmente a Conferência de Bretton Woods de 1944″. (p. 36-37)
Será preciso dizer algo mais? Brzezinski foi um anti-comunista e anti-marxista furioso. Mas como grande estratega do império devia reconhecer os dados da realidade, do contrário seus conselhos seriam pura insensatez. E o que ele disse e escreveu é inobjectável.
Concluo acrescentando minha confiança em que Cuba e Venezuela, seus povos e governos, sairão airosos desta duríssima prova a que se vêm submetidos pela imoralidade e prepotência do ditador mundial, que se crê com direito a dizer a todo o mundo o que tem de fazer, pensar e dizer, neste caso através do FMI. Não será preciso esperar muito para que a história lhe dê uma lição inesquecível, para ele e seus lacaios regionais.
O original encontra-se em www.lahaine.org/mundo.php/pandemia-la-casa-blanca-y
 

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