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Evo Morales anuncia reativação do setor mineiro. Nacionalização fica para mais tarde

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Por IELA em 01 de novembro de 2006

Por elaine tavares – De La Paz – Bolívia

 

 
01/11/2006 – A cidade de La Paz amanheceu dividida. Nas esquinas, onde se concentram as bancas de revistas, as gentes se aglomeravam para ler os jornais expostos em sua inteireza. O tema era a declaração do presidente Evo Morales que surpreendeu a nação na tarde desta terça-feira quando desistiu da nacionalização das minas. O país ainda estava comemorando o fechamento do contrato com as petroleiras que fortaleceu bastante o governo federal. Até mesmo a oposição mais cerrada foi obrigada a reconhecer que, pela primeira vez, um governo conseguia um contrato que não prejudicava a nação. Nos programas de debates da televisão boliviana, viam-se figuras importantes da oposição tentando encontrar furos nos contratos, mas não conseguindo, até porque, desta vez, não haverá clausulas de confidencialidade, o que significa que qualquer boliviano vai poder ter acesso às “letras chicas”.
E foi justamente por conta da nacionalização do gás que o presidente Evo Morales desistiu de realizar, agora, a nacionalização das minas. Segundo ele, este é um momento muito importante para a Bolívia e ainda há muitos acertos para fazer. Um exemplo disso é o contrato com a Petrobrás. Dele, ficaram de fora alguns pontos, como o preço, e as negociações seguem.
Assim, o anuncio que foi feito ao país não foi o da nacionalização da minas, e sim a revitalização do setor mineiro. O primeiro ponto a ser atacado pelo governo foi o da região de Huanuni, onde em outubro aconteceram sérios conflitos que, inclusive, acabaram em morte. A região estava conflagrada entre mineiros assalariados e cooperativados. Lá estão as maiores reservas de estanho do mundo e havia a necessidade de uma solução para o conflito.
As ações do governo para revitalizar o setor mineiro foram a reativação da Corporación Minera de Bolívia, a Comibol, que vai assumir o comando de todo o processo de contratação de trabalhadores no processo de nacionalização das minas, que está apenas começando, como diz Evo Morales e o anúncio de um investimento de 10 bilhões de dólares para que a mina de Huanuni volte a funcionar. O ministro de Minería y Metalurgía, Guillermo Dalence disse que a política mineira que está iniciando seu curso vai se amparar em quatro atores. O primeiro deles é a Comibol, ligada ao estado, o segundo são as Cooperativas, que reúnem hoje mais de 60 mil trabalhadores mineiros, o terceiro é a Associação dos Mineiros Medianos e o quarto é a Câmara Nacional de Minería. Estes dois últimos representam um número pequeno de trabalhadores, mas devem ser integrados ao programa. O ministro ainda declarou que há muitas coisas para serem normatizadas no setor de mineração antes que se inicie efetivamente o processo de nacionalização.
O certo é que a decisão do governo teve muito a ver com a tensão que já se anunciava nas regiões mineiras. Na mina de Porco, uma das maiores do país, e que pertenceu ao presidente deposto Sanchez de Lozada, os trabalhadores faziam vigilância armada e declaravam que ali ninguém iria nacionalizar nada. Na Federação das Cooperativas Mineiras também havia descontentamento porque com a nacionalização elas poderiam desaparecer. Assim, ainda embalado pela vitória política do fechamento dos contratos no que diz respeito ao gás, o presidente boliviano não quis arriscar um desgaste desnecessário neste momento.
Nas primeiras horas desta quarta-feira em La Paz , os paceños se achavam divididos. Alguns apoiavam a atitude do governo. “Não há pressa. Nosso presidente cumpre o que promete. A nacionalização vai vir”. Outros faziam críticas dizendo que Evo Morales estava se rendendo aos mineiros da Porco (numa alusão às ameaças dos trabalhadores da antiga mina de Goni – o presidente deposto). Mas, para os mineiros da Federação das Cooperativas a decisão foi acertadíssima. O presidente, Próspero Manani, apoiou a decisão do governo em fazer uma reativação no setor. “Isso vai garantir salários e dar um fôlego para a mineração”.
O presidente Evo Morales, falando a todos os bolivianos, deixou bem claro que o processo vai continuar. O fato de ter atuado apenas sobre a Huanuni não significa que esteja abandonando a idéia de nacionalização. “A Bolívia caminha para frente. Vamos chegar aonde queremos. Evo não teme as críticas, pois como bem lembrou o ministro Guillermo Dalence, toda a gritaria nacional e internacional que aconteceu por ocasião da nacionalização do gás não se cumpriu. “Diziam que o dinheiro iria fugir da Bolívia, que ninguém mais iria investir no país. Tudo isso se mostrou falso e logramos acertar contratos que não são lesivos à nação. Ora, nós temos as maiores reservas do mundo em estanho, temos cobre, prata em profusão. Ninguém vai fugir se houver uma nacionalização da minas”. O certo é que a população boliviana segue vigilante. Conforme declarações dos setores indígenas e camponeses, todos vão ficar de olho para que os recursos naturais da Bolívia permanecem nas mãos do país.

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