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Colonialismo no Caribe – Uma dívida com a história

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Por IELA em 15 de janeiro de 2015

Colonialismo no Caribe – Uma dívida com a história

Colonialismo no Caribe – Uma dívida com a história
Por Leandro Maceo –  leandro@granma.cu

12.04.2014  – O chicote europeu ainda ensurdece os ouvidos do Caribe. As marcas desenhadas a golpes de dor e humilhação nas costas dos filhos dessa terra e das regiões africanas, não podem ser apagadas. Homens e mulheres indefesos, com a alma ultrajada, gente de quem arrebataram os nomes para convertê-los em escravos. A memória da humanidade não esquece.
Os países caribenhos, mediante a adoção de uma posição conjunta, agora exigem compensações às antigas potências coloniais europeias. Com vistas a uma possível negociação a Comunidade do Caribe (Caricom) – através da Comissão de Reparações do bloco regional, apresentou um plano com dez pontos nessa direção.  Eles sustentam que a escravidão provocou a perda de valores culturais, baixa autoestima e degradação da identidade da negritude. Por isso, o legado dessa escravidão inclui a pobreza endêmica e a falta de desenvolvimento que caracteriza a maior parte da região.
A campanha iniciada pela nações caribenhas reclama uma compensação econômica pela escravidão e o genocídio dos povos nativos aos governos do Reino Unido, Portugal, Espanha, França e Países Baixos, e parte de que qualquer acordo deva incluir uma desculpa formal, já que o arrependimento por si só não será suficiente.
Com a chegada e conquista da América por parte dos europeus traçaram-se planos de expansão que exigiam mão de obra barata. Primeiro, escravizaram os povos indígenas americanos que se extinguiram rapidamente. Então, as potências europeias importaram escravos africanos, que tinham mais resistência física, e enfrentavam melhor as enfermidades tropicais. Começaram aí um negócio de grande escala de escravos africanos: o comércio negreiro.
O comércio triangular serviu economicamente aos interesses das colônias americanas e era a base do sistema de produção das plantações assim como do crescimento pré industrial e industrial na Europa. Trata-se do caminho dos barcos entre os portos da Inglaterra, Portugal, Espanha e França até o Caribe, uma vez carregados desde a costa oeste da África.
Não há consenso sobre as cifras da escravidão na época moderna, mas estima-se que tenha havido mais de 60 milhões de sequestrados, dos quais 24 milhões vieram para a América, 12 milhões para a Ásia e 7 milhões para a Europa. Os 17 milhões restantes morreram na travessia. O negócio era tão rentável que os benefícios não diminuíam ainda que para da “mercadoria” fosse lançada ao mar.
COLONIALISMO: A PRINCIPAL CAUSA DO SUBDESENVOLVIMENTO
Para Ralph Gonsalves, primeiro ministro de San Vicente e das Granadinas, quem lidera a iniciativa da comunidade caribenha, a principal razão do subdesenvolvimento no Caribe e América Latina é o legado do genocídio nativo e da escravidão africana, por isso insiste em exigir reparações aos antigos impérios coloniais europeus.
Segundo Gonsalves, em tal sentido e durante décadas existiu um movimento que se originou da sociedade civil, entre intelectuais e profissionais. Os países do Caribe envolvidos nesse novo pedido contrataram os serviços da firma britânica Leigh Day, especializada em direitos humanos, ainda que não tenham fixado o montante da compensação a que almejam.
Existem, entretanto, alguns antecedentes. Em 1999, a African World Reparations and Repatriation Truth Commission (Comissão da verdade do mundo africano para a  reparação e repatriação ) exigiu do Ocidente o pagamento de 777 bilhões de dólares para os países africanos que foram vítimas da escravidão durante o período colonial. Também entre 2004 e 2011, alguns países do bloco caribenho – Jamaica, Guyana, Antígua e Barbuda – tentaram, sem êxito, obter algum tipo de compensação por parte dos países europeus envolvidos com o tráfico de escravos.
Não é um assunto de dinheiro, sustenta a historiadora Verene Sheperd, a que dirige a Comissão de Reparações da Jamaica, mas de acordar mecanismos de compensação que contribuam par ao desenvolvimento dos Estados reclamantes. “Antes de tudo, queremos que a Europa se desculpe, pois até agora só emitiram declarações de arrependimento”, argumenta. “Estamos colocando esse debate no campo do desenvolvimento. Não falamos de confronto, mas de levar nosso caso à Corte Internacional de Justiça para negociar”, explicou Sheperd.
RESPALDO CUBANO
Cuba ratificou nas Nações Unidas o seu respaldo aos países caribenhos acerca das desculpas e reparações econômicas que estão exigindo das potências europeias pela escravidão e o genocídios dos povos nativos. “Apoiamos resolutamente a justa solicitação de desculpas sinceras e as consequentes compensações exigidas pelos estados membros da Comunidade do Caribe”, afirmou a diplomata Daylenis Moreno, que interveio em uma sessão da Assembleia Geral pela celebração do Dia Internacional de Memória das Vítimas da escravidão e da Trata Transatlântica de Escravos, no dia 25 de março último.
“Cuba respalda e copatrocina o projeto de resolução que a cada ano se apresenta nas Nações Unidas acerca desse tema pela Caricom e o Grupo Africano”, disse Moreno. Ela expressou ainda o rechaço da maior de todas as ilhas da região das Antilhas “ao egoísmo opulento e à impunidade que desfrutam os responsáveis por crimes contra a humanidade, associados ao desenvolvimento histórico do capitalismo. Hoje, são precisamente os mesmos que constituem os principais beneficiários de uma globalização imposta sobre as pautas neoliberais do saquem as armas letais do  neocolonialismo financeiro e as novas modalidades de ameaça e uso da força contra o exercício da livre determinação dos povos”, sentenciou.

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