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Repúdio ao editorial do jornal La Nación

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Por IELA em 24 de novembro de 2015

Repúdio ao editorial do jornal La Nación

“Não em nosso nome” responderam os trabalhadores do La Nación.

No dia seguinte ao resultado das eleições argentinas, o jornal La Nacional publicou um editorial no qual condenava os julgamentos por lesa humanidade aos generais da ditadura militar argentina e pedia para “terminar com a perseguição” aos citados genocidas, alegando que as prisões eram uma vingança e que era preciso libertar os “anciãos”. O editorial caiu como uma bomba sobre Buenos Aires e o mundo. Imediatamente gerou um rechaço completo por parte dos jornalistas e demais trabalhadores do próprio jornal, que pertence a família Saguier. 
Saudando a vitória do ultra conservador Maurício Macri o editorial escrachou:  “a eleição de um novo governo é momento propício para terminar com as mentiras sobre os anos 70 e as atuais violações dos direitos humanos”. O texto foi tão sem cabimento que até mesmo a senadora Norma Morandini, uma das pessoas citadas no editorial defendendo os genocidas afirmou que tinha sido mal interpretada.
O editorial apontava que “as ânsias de vingança devem ficar sepultadas para sempre” e comparava as pessoas que lutaram contra a ditadura nos anos 70 aos atuais terroristas que praticaram o atentado de Paris, fazendo comparações descabidas, uma vez que o tempo histórico é completamente diferente, bem como os motivos de cada ação. Durante a campanha eleitoral esse tema da ditadura apareceu recorrentemente nas ruas, em pichações anônimas que afirmavam que as 30 mil mortes praticadas pela ditadura não eram verdadeiras.
Os donos do jornal La Nación, embriagados pelo gosto da vitória de seu candidato, criticaram os anos de Kirchnerismo com as seguintes palavras: “chegou a hora de por as coisas no lugar”. Com isso defendiam o fim do que chamaram de “vergonhoso padecimento de condenados, processados e inclusive suspeitos levantados pela comissão de delitos cometidos durante os anos de repressão subversiva e que estão na prisão apesar de sua idade”.
No mesmo dia, o repúdio ao editorial ganhou o mundo. Defender de forma explícita os crimes da ditadura e ainda querer confundir a memória histórica levou os próprios trabalhadores do periódico a realizarem uma assembleia histórica e se manifestarem veementemente contra o texto. Não foi escrito no nome dos trabalhadores. Representa unicamente o pensamento dos donos.
O episódio, bizarro, já dá conta do tipo de conflito que se seguirá no país vizinho, o único na América Latina que levou até o fim o expurgo das dores da ditadura militar, colocando na prisão os torturadores e os mandantes. Fazer apologia à tortura, negar as 30 mil mortes e ainda culpabilizar as vítimas é buscar encobrir a própria história. Que o povo argentino não permita mais esse crime, entre os tantos cometidos pela classe dominante – ontem e hoje – aliada do capital internacional e do império estadunidense .

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