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O dia do Índio nesse 2019

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Por IELA em 18 de abril de 2019

O dia do Índio nesse 2019

A violência cotidiana contra os donos da terra

Vem aí mais um dia do índio. E, ao contrário do que quer fazer parecer o mundo capitalista, destruidor de gente, esse não é mais um dia ritualístico, no qual as crianças se “fantasiam” e cantam que índio quer apito, num pastiche que mais ofende que lembra. Não. Passou o tempo da fantasia e, hoje, o índio quer mesmo é a sua terra de volta. Para isso se organiza autonomamente, realiza retomadas, resiste e avança. 
Desde a metade do século passado que as comunidades indígenas vêm buscando caminhos próprios de luta, sem aceitar tutelagem de Estado ou ONGs. Foi assim que avançaram sobre a garantia de direitos e é assim que vão trilhando os caminhos do retorno para casa. Isso significa voltar aos seus espaços ancestrais, onde ainda vivem seus deuses e onde descansam seus ancestrais. 
Há quem tripudie desse aspecto da realidade indígena, que se mescla com o sagrado, usando inclusive a crítica que Marx faz – no “A Ideologia Alemã” –  à ideia de sagrado que é tão cara aos hegelianos. Mas, se tivesse a delicadeza de conhecer em profundidade a cosmovivência indígena saberia que, na maioria dos casos, o sagrado para o indígena não tem relação alguma com o que está no plano metafísico. Pelo contrário. Tudo está relacionado com a imanência. Assim, o discurso de Marx não pode ser transplantado para o mundo indígena. Porque o sagrado indígena está visceralmente ligado à produção e reprodução da vida material.  Essas são culturas que precisam ser conhecidas, de fato, para que possamos conhecer e reconhecer o que ainda vive em nós. Afinal, todos os que existimos nesse espaço geográfico trazemos essa herança. 
No que diz respeito ao chamado dia do índio já se vão alguns anos nos quais os povos indígenas organizam no mês de abril outra celebração. É um acampamento de luta na capital do Brasil, até porque, mesmo durante os governos petistas, muito pouco se avançou nas demarcações de terra e no combate à violência. Então, nesse mês eles realizam atividades em Brasília que incluem lutas específicas, cantorias, danças, essa mescla de sagrado/terrenal tão singular a essas culturas para as quais a vida não se divide entre o céu e a terra. É um momento importante para os não-índios também, porque podem compartilhar destas práticas e mergulhar de maneira mais profunda nas águas das culturas originárias. 
Mas, para esse ano de 2019, as portas da capital também se fecharão aos índios. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, determinou a atuação da Força Nacional na Esplanada e na Praça dos Três Poderes nos próximos 33 dias, justamente no espaço de tempo em que acontece o acampamento indígena, com o seguinte argumento: “garantir a integridade física das pessoas, do patrimônio público e dos prédios da União”. Ora, nunca se soube de algum ataque dos indígenas a pessoas em Brasília. O contrário, sim. 
E é assim que o governo Brasileiro vai “comemorar” mais um dia do índio. Escrachando a violência que sempre foi usada contra os originários desde a invasão. De qualquer forma, para quem tem vivido na pele, todos os dias, desde 1500, a opressão e o extermínio, esse é só mais um momento de luta, que certamente irão atravessar com a mesma galhardia de sempre. O povo originário está aí desde há 500 anos. E não vai embora. 
O Acampamento Terra Livre acontece nos dias 24, 25, 26 de abril. Adiante, parentes!

 
 
 
 
 

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