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Luta pela água no Ceará

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Por IELA em 01 de julho de 2018

Luta pela água no Ceará

Acampamento – Foto: Selas

A população do pequeno município de São Gonçalo do Amarante, que fica na região metropolitana de Fortaleza, Ceará, está em luta pela defesa da água. Uma proposta da prefeitura, de abrir 35 poços para enviar água até uma termoelétrica, pode colocar em risco os mananciais utilizados pelas famílias do lugar. E foi para defender a água da comunidade que um grupo de pessoas armou acampamento no canteiro de obras da empresa Cosampa Projetos e Construção Ltda, numa área entre as praias do Pecém e da Taíba. Essa empresa, contratada pela prefeitura, é a que realiza a perfuração do solo para a construção dos poços planejados pela prefeitura local. 
São Gonçalo do Amarante abriga um dos maiores portos do Brasil, o Porto do Pecém, situado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém e tem sido palco de grandes lutas pela proteção das águas, justamente por conta desse complexo, que já provocou grande desequilíbrio ambiental. No ano passado, por exemplo, o povo da etnia Anacé travou batalha longa contra a retirada de água do Lagamar do Cauípe e agora, com mais essa obra de perfuração de poços, a luta volta a ser uma necessidade para proteger os mananciais. 
A batalha pela proteção ambiental em São Gonçalo tem sido intensa. Por conta do complexo portuário, a região ficou sob as vistas das empresas e dezenas delas se instalaram no município desde 2016. Isso tem provocado uma demanda bem maior pela água e a prefeitura decidiu perfurar o solo e fazer poços, coisa que pode provocar ainda mais problemas ao frágil ecossistema da região. Os manifestantes denunciam que a água a ser retirada dos poços irá para a termoelétrica de Pecém, e ainda com 50% de isenção.
Não bastasse isso a empresa de perfuração realizava os trabalhos sem as devidas licenças ambientais ou relatórios de impecto numa região que apresenta clara fragilidade ambiental. Segundo os movimentos que apoiam a ocupação, a perfuração de poços no local, em vez de garantir o abastecimento de água, como diz o governo municipal, vai é sugar a água do subsolo e secar as cacimbas que são tradicionalmente usadas pelas famílias que utilizam a água para a agricultura e trabalhos domésticos.
Em função da denúncia de falta das licenças o Ibama esteve no local e constatou  a veracidade. Por conta disso o órgão decidiu embargar a obra e multar a prefeitura. Mas, segundo a comunidade, as obras não pararam e é por isso que o acampamento se mantém ali. 
O prefeito de São Gonçalo, Claudio Pinho, realizou uma reunião extraoficial com alguns moradores locais  desqualificando o movimento e querendo conversar em particular com as famílias que estão guardando a água. Mas, segundo as famílias que estão no acampamento a conversa foi rejeitada. Todos querem uma discussão clara, feita abertamente com o coletivo. Os vereadores da cidade estão quietos e ainda não se manifestaram. O clima é de bastante tensão na cidade.
De acordo com os informes que chegam desde o acampamento há pressão e hostilização. Agora, enquanto as obras estão parcialmente paradas por causa do embargo, a polícia está no local sob o argumento de que é preciso proteger o patrimônio, servindo de vigilante para as empresas e maquinários. “Estão servindo de cães de guarda dia e noite parada em frente aos canos, para proteger um patrimônio que é provado”. 
O prefeito faz a propaganda contra o movimento dizendo que as pessoas que estão no acampamento prejudicam a cidade e são egoístas, não querendo compartilhar a água. Mas os ativistas insistem que os poços não servirão à maioria da população e ainda podem secar a pouca água que existe. 
O povo Anacé, originário daquela região e que tem travado grande luta pela água, na defesa do Lagamar do Cauípe, se coloca em luta junto com a população de São Gonçalo, onde vivem muitos parentes. Eles se manifestaram em apoio a paralisação das obras de perfuração por considerá-la mais uma agressão à natureza e, como protetores da água, acreditam que não podem ficar de fora desse protesto. É importante salientar que a retirada da água dos poços é também mais uma extensão da retirada da água do Cauípe e de todo o aquífero que existe na região. Segundo o cacique Roberto Anacé, “A luta mãe é pela Terra. Mas tudo o que constitui a natureza é irmã da Terra”, e é por isso que os Anacé convocam à luta.
Por não ter as licenças ambientais a prefeitura de São Gonçalo foi multada em mais de R$122 mil, mas a comunidade denuncia que as obras seguem em andamento. Por isso estão lá, acampadas, e tornando pública essa luta, para que a prefeitura suspenda a obra e não permita que a água se acabe. 
A luta pela proteção das águas é uma realidae do nosso tempo. Em toda América Latina, centenas de  comunidades vivem essa realidade. A água, que sempre foi um bem público, está cada vez mais sendo sequestrada por empresas privadas, tornando-se mercadoria de alto preço. Assim, cada pequena batalha, em qualquer canto do planeta, será sempre um movimento importante a se somar na grande luta pela água como um bem de todos. 
Fotos: Selas  – arquivo da comunidade

As obras seguem

O povo resiste

Com informações da comunidade, via telefone.

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