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Guatemala: mulheres clamam por justiça

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Por IELA em 15 de março de 2017

Guatemala: mulheres clamam por justiça

Mulheres maias velam pelas meninas mortas

Casa Segura Virgem de Assunção. Esse é nome da instituição do estado guatemalteco que “cuida” de crianças vítimas de violência ou abuso. Nada poderia ser mais cínico. Na semana passada, ironicamente no dia da mulher, quarenta meninas, com idade entre 13 e 17 anos, foram queimadas vivas nas dependências dessa casa, depois que decidiram se revoltar contra os maus tratos e abusos sexuais a que eram submetidas. 
Naquele dia, os menores que estavam no albergue – meninos e meninas  – iniciaram uma rebelião. Queriam fugir. Já estavam cansados de tanta violência num lugar que deveria cuidá-los. Mais de 60 conseguiram escapar. Mas, em menos de 24 horas a maioria foi encontrada e trazida de volta para o albergue. Lá dentro, apanharam bastante e depois foram divididos em grupos. Os meninos ficaram trancados numa sala e as meninas, em torno de 56, em outra. 
Com a fuga frustrada, todas sabiam que as consequências seriam duras. Assim, no desespero, tentando chamara atenção das autoridades, uma das garotas colocou fogo num colchão e imediatamente as chamas se espalharam. Elas correram para a porta, gritando e pedindo que abrissem. Conforme os relatos dos garotos, que estavam em outra sala, os guardas impediram que eles saíssem para ajudar a apagar o fogo. Não abriram a porta, mantiveram os jovens presos e deixaram, deliberadamente, que as meninas queimassem. 
As denúncias de abuso na Casa que deveria ser de proteção já não eram de hoje. Há anos que as garotas que saem de lá informam sobre violações sexuais e outros abusos. Tanto que em dezembro do ano passado o juizado de Infância e Adolescência da região metropolitana condenou o estado guatemalteco pelas violências cometidas contra menores de idade sob sua proteção. Era para o governo ter ampliado a casa, melhorado a divisão dos menores e tirado de circulação os guardas acusados de abuso. Nada foi feito.
O povo da Guatemala tem realizado vigílias desde o dia da morte das meninas e tem acusado o estado de feminicídio. Porque as garotas foram assassinadas justamente para que não reportassem dos abusos que sofriam continuamente. 
Algumas crianças ainda estão desaparecidas e a dor das famílias é grande. Muitas mães ainda não sabem se as filhas estão mortas ou sumidas. 
O terror vivenciado na chamada “casa segura” na Guatemala não é diferente do que existe em outras tantas instituições desse tipo em toda a América Latina. Encarcerados por pequenos delitos, por sofrerem abusos ou por serem portadores de deficiencia, os menores de idade – mais de 250 mil no continente – deveriam ser cuidados e ter sua integração garantida na sociedade. Mas, o que se vê são denúncias e mais denúncias de violência inomináveis por parte dos guardas, psicólogos, médicos, trabalhadores e administradores que os tratam como pequenos bandidos, aplicando uma “justiça” própria. No caso das meninas mortas foi a psicóloga da casa que tratou de fechá-las na sala, usando um cadeado. Nem ela nem ninguém procuraram abrir a porta para deixar que as menores saíssem. 
O crime cometido contra as meninas da Guatemala está mobilizando toda a América Latina e outros lugares no mundo. Protestos de rua pedem a renúncia do presidente Jimmy Morales. Ate agora, o governo tem agido com muito vagar na investigação do caso. As famílias querem justiça, mas não apenas para as meninas que morreram. Querem que as casas desse tipo sejam varridas do país e que os menores tenham um tratamento digno.
Muitas das crianças e jovens que morreram queimadas no abrigo que deveria protegê-las eram abandonadas, outras já tinham sofrido violência. Esperavam encontrar apoio e segurança. Mas, tudo o que tiveram foi mais abuso e mais violência. 
Pelo que se vê nas ruas da Guatemala, o grito das meninas não ficará em vão. A população organizada vai às ultimas consequências, investigando e punindo os casos de abuso sexual e violência contra os menores. A tragédia desse dia da mulher chacoalhou a América inteira. Nenhuma a menos. A justiça se fará.  

População exige justiça e pede a saída do presidente.

 

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